quinta-feira, 8 de julho de 2010

Levanta-te e come, pois do contrário o caminho te será longo demais! (1Rs 19, 7)




Meus queridos partilho com vocês uma das conclusões da Lectio divina que fiz de 1Rs 19 durante o retiro do Clero diocesano que estamos vivendo em Extremoz desde segunda-feira passada. O excelente pregador Dom Muniz, é atualmente arcebispo de Maceió, carmelita e doutor nas sagradas Escrituras. Por ser especialistas nas Sagradas Escrituras e carmelita, ele fala com muita familiaridade do profeta Elias.


Vinde, subamos a montanha do Senhor (Elias no Horeb, 1Rs 19)


Elias, o grande profeta, que com sua força e coragem tinha derrotado os profetas de Baal (deus cananeu), que assombrou o rei Acaz com sua ousadia e que havia realizado muitos milagres, demonstra, de forma inesperada, uma fraqueza impressionante. Tremeu de medo diante da ameaça de Jezabel, esposa do Rei Acaz.
Como essa situação se assemelha a nossa também. Somos tão fortes em determinadas situações, superamos desafios que todos ficam surpreendidos com nossa capacidade e, inesperadamente, caímos diante de coisas tão pequenas. As questões emocionais têm essa capacidade de vencer nossa força. Geralmente sofremos muito quando somos traídos, caluniados, quando cometemos um erro, quando dizemos uma palavra que magoou alguém etc.
Nesse drama existencial terrível, uma crise sem precedentes em sua vida, Elias que havia se escondido e estava fugindo – sempre fazemos assim, procuramos nos esconder, num isolamento total, “não quero ver ninguém, falar com ninguém” - assim dizemos - “vou abandonar tudo, não me valorizam, ninguém gosta de mim”.
Mas Deus não nos abandona. Sempre envia anjos para nos resgatar. Anjos muitas vezes humanos, como amigos de verdade, ou então situações que nos fazem refletir e voltar atrás. Deus enviou um anjo a Elias para reanimá-lo.
Recobrando as forças e a vontade de viver, Elias vai ao Monte Horeb, o lugar onde o verdadeiro Deus se revelou (Ex 3 e 33,18-34,9) e onde a Aliança com Israel foi concluída (Ex19,24; 34,10-28). mas o que significa ir ao Horeb? Quer dizer voltar para Deus, ir consultá-lo, escutá-lo. Elias está num dos momentos mais difíceis da sua vida. Pensemos em nossos maiores problemas, medos, doenças. O Profeta chega a ponto de desejar a própria morte, de pensar em desistir não somente de sua missão, de sua profissão, mas também de sua própria vida, tamanha era sua depressão, conseqüência de seu medo e de sua frustração diante da gravidade dos problemas que o afligiam.
Quando Deus pergunta o que Elias está fazendo ali, o profeta responde, como sempre, se fazendo de vítima e colocando a culpa nos outros. Nunca o problema está em nós! Elias chega ao ponto de dizer que está sozinho, que apenas ele escapou, que somente ele teme a Deus, que todos abandonaram a fé, em suma, que ninguém presta além dele, que todos são falsos, corruptos, pecadores – e somente ele é o bom, o justo, o verdadeiro.
Isso acontece muito conosco.
A verdade é que Elias está desconcertado, agitado, revoltado. O medo diante da ameaça de Jezabel fez isso com ele. Desarrumou a vida dele. Muitas coisas desarrumam nossa vida também. Problemas na sexualidade, nos relacionamentos, questões financeiras, ódios etc. O medo de Elias o deixou confuso, cego e nu. No versículo 18 Deus diz que poupará 7 mil homens que permaneceram fiéis a Ele, essa é a prova de que Elias não está sozinho. Quando estamos em crise não conseguimos ver as coisas como são na realidade.
Em meio a esse desastre existencial, porém, Elias fez a coisa certa ao procurar o caminho do Horeb, a montanha de Deus. Muitas vezes nós procuramos as respostas, as soluções para os nossos problemas em lugares errados. Deus é a resposta, somente Ele pode nos reconstruir, nos dar a vida novamente.
No deserto, no alto da montanha, sozinho diante do Divino, silenciando suas vozes interiores o profeta escuta grande barulho: ventos impetuosos como um grande furação, depois um grande terremoto e um fogo. Tudo isso era muito forte e grandioso mas Deus não estava nesse barulho. Depois de tudo isso veio então uma brisa suave. Deus estava ali: no silêncio de um vento tranqüilo. Elias suportou o furacão, o terremoto, o fogo que queima e encontrou Deus depois de tudo isso. Reencontrou a paz.
Caríssimos, nós precisamos de silêncio para ouvir a Deus. Temos necessidade de sair dos furacões, dos terremotos que é a nossa vida diária, repleta de confusões, problemas, agitações.
Domingo passado, após a missa dos romeiros no bairro Dom José Adelino Dantas, em Carnaúba dos Dantas, subimos o monte de Nossa Senhora das Vitórias, o Monte do Galo, com os jovens do EJC (Encontro de jovens com Cristo). Foi uma experiência maravilhosa. Lá em cima eu contemplava essa brisa suave de que fala o texto e sentia forte a presença de Deus naquela paz. Na brisa suave somos obrigados a silenciar e ouvir a voz de Deus. Olhando para a cidade embaixo, distante, percebemos o quanto somos pequenos, o quanto nossos problemas são tão insignificantes diante da grandeza da criação, da grandeza maior ainda do Criador, do nosso Deus amado. Nos agitamos com tantas coisas desnecessárias. Gastamos tanto tempo com coisas terrenas, fúteis, passageiras e nos esquecemos de olhar para Deus, de buscar o alto, de enxergar mais longe.


Como é bom subir a montanha, fazer retiro, parar pra pensar na vida, pra falar com Deus, pra refletir sobre nossas atividades. Como é bom descansar em Deus, ter n'Ele nosso refúgio. Como é bom saber que não estamos sozinhos. Que temos um Deus Pai que nos ama em seu Filho Jesus na comunhão do Espírito Santo.

Abençoado dia para todos vocês!

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